Gurgel, IBAP, Troller. Três fabricantes de veículos com histórias de sucesso e declínio no mercado automobilístico. Hoje, você conhece mais sobre essas montadoras brasileiras e confere os motivos pelos quais as empresas não prosperaram no país. 

Ainda neste artigo, repleto de curiosidades para entusiastas de automóveis, vamos te apresentar carros icônicos de fabricação brasileira. Prepare-se para uma viagem no tempo! 

O mercado automotivo brasileiro

A indústria automotiva foi inaugurada no Brasil na década de 1850. Curiosamente, o primeiro carro a entrar no país foi importado por Alberto Santos Dumont.

Nesta mesma época, o então presidente Washington Luís, tinha como slogan a frase: “Governar é abrir estradas”. Portanto, suas obras de rodovias asfaltadas foram primordiais para o nascimento desse setor. 

No entanto, historiadores confirmam que foi apenas no século XX que o trem entrou em desuso e os automóveis ganharam notoriedade na vida dos brasileiros. Os responsáveis por esse crescimento foram os presidentes, Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek. 

O Pequeno Pioneiro

O primeiro carro com DNA brasileiro foi o Romi-Isetta. O veículo de apenas dois lugares foi fabricado pela empresa Romi, que tinha como foco a produção de equipamentos agrícolas. O berço do chamado “Pequeno Pioneiro” foi a cidade de Santa Bárbara d’Oeste, no interior paulista.

Este marco na cultura automobilística nacional foi lançado em 1956. Segundo a Romi, o veículo tinha formato de gota d’água e uma única porta frontal. Esse modelo era a versão brasileira e mais barata do Isetta, veículo italiano.

Primeiro carro de passeio fabricado no Brasil. (IMAGEM: Fundação Romi)

Após o sucesso do Romi-Isetta, a indústria automobilística internacional viu um mercado propício no Brasil. Montadoras europeias, norte-americanas e asiáticas passaram a instalar fábricas no país. Desse modo, passamos a ser fabricantes de automóveis de empresas como Volkswagen, Ford, General Motors e Fiat. 

A Romi, porém, não continuou a sua fabricação de carros de passeio. 

Gurgel: uma das montadoras brasileiras que deixou saudades

Com o crescente mercado de carros no Brasil ainda no século passado, além de abrigar empresas estrangeiras, empresários começaram a investir na indústria nacional. Nesse cenário de modernização nasceu a Gurgel. 

A empresa foi uma das montadoras brasileiras com maior notoriedade. A marca teve início em 1969, na capital paulista e encerrou suas atividades em 1975, quando tinha sua produção localizada na cidade de Rio Claro. 

O nome da montadora foi uma homenagem do fundador à sua família. A frente do negócio estava o obstinado João Augusto Conrado do Amaral Gurgel, que tinha como sonho de infância produzir carros nacionais e aplicou todos seus esforços para essa realização. 

O primeiro veículo da Gurgel foi o modelo Ipanema. Era um buggy que ganhou fama por rodar bem em terrenos acidentados. Esse desempenho foi crucial para o direcionamento da montadora, que passou a investir em carros com pegada off-road. 

Um marco importante para essa história é a patente do sistema de chassi chamado Plasteel. Esse mecanismo criado pela Gurgel misturava plástico e aço. O uso do Plasteel foi inovador e gerou um novo nicho de mercado. 

Xavante, o carro que conquistou o exército brasileiro 

Até hoje, o nome Gurgel é associado ao Xavante. Um icônico carro usado até pelo Exército Brasileiro. 

Ao longo das quase três décadas de existência da montadora, o Xavante teve algumas variações, sendo que em todas elas a peça-chave era o chassi Pasteel. 

O Xavante se assemelha a um jeep e por conta de sua resistência chamou atenção das Forças Armadas. 

Por mais que os veículos da Gurgel tenham marcado época, não foi o suficiente para manter a fábrica funcionando. A montadora brasileira decretou falência em 1994 após o número de vendas cair drasticamente. 

Modelo Xavante X12 foi o principal veículo da Gurgel. (IMAGEM: Marcelo Bezerra Cavalcanti)

IBAP: a história da Indústria Brasileira de Automóveis Presidente

Essa também é a história de um sonho que virou realidade. O fundador da Indústria Brasileira de Automóveis Presidente (IBAP), Nelson Fernandes, sempre desejou fabricar carros com DNA brasileiro. E em 1963 fundou a IBAP em São Bernardo do Campo.

O mais curioso da trajetória dessa montadora brasileira é que foi um marco no mercado automobilístico nacional, mas teve uma curta vida, de apenas cinco anos. Durante esse período, a empresa fabricou apenas um modelo de veículo, que nunca chegou a ser lançado além dos protótipos.

O carro em questão foi o luxuoso o Democrata. Ele contava com as seguintes características:

  • O cliente poderia escolher entre duas ou quatro portas;
  • A carroceria era de plástico reforçado com fibra de vidro;
  • O revestimento interno era de madeira de jacarandá;
  • Por fim, o motor era a única peça importada. O mecanismo veio da Itália e era vendido pela Procosautom – Proggetazione Costruzione Auto Motori.

A IBAP foi investigada pela Polícia Federal e pelo governo militar que vigorava na época. Desse modo, a montadora fechou após ser indiciada pelo crime de “coleta irregular da poupança popular sob falsa alegação de construir uma fábrica de automóveis”. 

A história da montadora brasileira que tinha tudo para ser uma grande potência foi curta. Porém deixou um belo legado. 

Democrata, o projeto da montadora brasileira que nunca ganhou o país. (IMAGEM: Enciclopédia Viva do Automóvel)

Troller: uma das montadoras brasileiras que se reinventou 

Saindo do estado de São Paulo e indo até o Ceará, a terceira montadora brasileira em destaque é a Troller. 

Essa empresa nasceu em 1997 e tem como marca registrada os veículos de rally. 

Segundo a montadora, “O nome Troller é uma adaptação brasileira da palavra inglesa troll, que se refere a um personagem das lendas escandinavas que habita florestas e cavernas da Noruega. Personagem que protege seus visitantes, além de ser fiel, leal e trazer sorte, mas perde a paciência quando ameaçam seu habitat.”

Portanto, os veículos fabricados pela empresa são naturalmente radicais. 

No início, o fundador, Rogério Farias, teve a ideia de fazer um buggy anfíbio, que o ajudasse a rodar na orla cearense. 

Desse modelo inicial vieram as otimizações, ate que chegou ao jeep 4×4 ao qual a marca ficou nacionalmente conhecida. 

A Troller carrega diversos prêmios em rallys nacionais e internacionais. Inclusive, esteve presente e ficou em quarto lugar no Rally Paris-Dakar, um dos campeonatos mais difíceis e disputados da categoria.

Diferente da Gurgel e da IBAP, a Troller ainda mantém sua produção. No entanto, desde 2007 a empresa pertence ao grupo Ford.

A Troller nasceu no Ceará e tem fabricação nacional, mas hoje faz parte do grupo Ford. (IMAGEM: Troller)
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